segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mari(A)na

Ela sou eu.
Ela sou eu na hora certa.
Eu sou ela.
Eu sou ela sem freio.

Ela já leu mais livros do que eu.
Eu já tive mais namorados do que ela.
Ela já brigou muito comigo.
Eu adoro chamá-la de dramática.

Nós já rimos muito juntas.
Já nos abraçamos muito.
Bebemos muitos chopps e tangos.
Vimos muitos táxis cruzarem Ipanema.

Eu já pedalei para encontrá-la.
Ela já pegou estrada para me ver.
Nós gostamos de ir à praia à noite
À tarde enterramos nossos pés na areia.

São dez anos de amizade verdadeira.
E ela me faz falta todos os dias.
Não existe um dia no meu mês em que meu pensamento não voe até a Tijuca
lembrando da voz de trovão, do sorriso largo e do abraço de mãe/irmã.

Nem que seja para falar o quanto ela está magra
ou saber o número do tatuador dela;
nosso silêncio lado a lado na praia faria a diferença nos meus dias tristes.

A menina mulher que tem um A a menos no meu nome, mas muitos outros alfabetos na minha vida.


(Foto de 2000 e lá vai fumaça. Mais uma noite inesquecível no Empório.)

domingo, 24 de junho de 2012

A calmaria

Ele dormia enquanto os baldes d'água limpavam o quintal.Nas espumas de sabão no chão branco seus sonhos se teciam em nuvens.Do alto ele à via. Observava a tatuagem sobre o ombro esquerdo, os pés descalços andando sobre suas pontas para não escorregar.Virava-se na cama.A exauridão acorda em seus olhos vermelhos. Ele não lembra com o que sonhou. Limpa os pés no pano sujo e lhe beija a boca. O bom dia com gosto de boa tarde a faz bocejar.Enquanto o chuveiro faz barulho, a toalha de mesa seca no varal.Nada reverbera na casa.Nada abala a calmaria.Nem a fuligem que chove sobre a roupa limpa.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Amidalite

A garganta acorda cortando. A saliva desde rasgando e a tosse é inevitável.
O cansaço para me levantar da cama aponta para mais um dia. Parece que os meus ossos estão mais pesados e as pálpebras têm sacos de areia presos nos cílios.
A cabeça dói também. Lateja, me faz fechar os olhos e vai embora.
Assim começou mais uma quinta-feira...

Esperei para ser atendida já imaginando que o médico não fosse nem olhar nos meus olhos. Me enganei. Um senhor simpático me recebeu na sua sala. Língua pra fora e "me dê um A bem colorido". Me senti com quatro anos. Língua pra cá, palito na língua pra lá, ele identificou um quadro infeccioso de amidalite. Resultado:
Atestado de dois dias.
Remédio por uma semana.
Falta de fome, corpo mole e leseira.

Meu fim de semana de folga será lindo.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre a pressa


O homem tem pressa demais...
Pressa para ser atendido na fila do banco, do médico, do restaurante.
Faltam horas no relógio. Os dias voam nas poucas voltas que o medidor dá.
A paciência virou mito e a folga moeda de troca do sossego.
Sobram reclamações e sonhos.
Desejos de consumo que a cada dia só aumentam e nunca diminuem. Quando são supridos, logo são repostos.
As crianças crescem entre as zumbidos dos vídeo-games e a falta de palavras.
O que deles falta no homem é a ingenuidade perdida no rancor da rotina.
Antes disso, aprendemos na escola o ser vivo nascer, cresce, se reproduz e morre. O meandro a gente aprende sozinho.
A vida nos tirou a sutileza dos dias os tornando cansativos e agora nos encontramos numa sala de espera eterna durante pesadelos de olhos abertos.
O homem teve pressa demais...




(na sala de espera do meu médico em 23/01/2012)

Bem-vindos

Vigésima terceira tentativa de criar um blog. Já ouvi e li que deveria criar algo do tipo pra despejar meus textos. Mas o meu trabalho nunca permitia ao tempo me dar um tempo.
Então cá estou. Tentando na madrugada de início de inverno traçar um texto, uma tentativa de texto, pra começar este bloco virtual. Quando não ficar batendo de testa contra esta tela, vou apenas reproduzir o que escrevo no meu bloco.
Ah, sim! Sou fotógrafa. Tenho dias de muitas coisas e dias de muita falta de coisas. Dias de ruas, gentes e cores. E dias das mesmas coisas, mesmas pessoas e mesmas cores. Nos dias de muitas ruas, meu bloco que fica dentro da bolsa da minha câmera recebe algumas palavras. Quando não é ele, é o do meu namorado, ou um papel qualquer que o repórter me arruma. As palavras chegam à ponta dos dedos e precisam ser escritas. Pois se armazenadas apenas na mente, se perdem em infinitos.
Quase duas da manhã, me sinto meio doente e meio bêbada. Meio diferente e completamente igual. Aos 25 anos, na metade dos 50, não me vejo daqui dois anos. Os dias vêm. O rock ruim que toca agora no meu rádio vai ser desligado e vai dar espaço à boa música, assim como dentro de nós.
O que há de ruim se esvai no ralo de chuveiro depois de um dia de trabalho. Já, o que há de bom, fica cravado na pele e nos ossos.

Bem-vindos à minha estrada.